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Ayahuasca Terapêutica: Alívio Promissor para Dor Neuropática

Estudos recentes indicam que a Ayahuasca pode ser eficaz no tratamento da dor neuropática (NP). Essa dor é resultado de danos ou disfunções no sistema nervoso e é comumente associada a doenças crônicas. O potencial da Ayahuasca para tratar a dor neuropática está relacionado à sua capacidade de modular o sistema serotoninérgico e ativar a via descendente de analgesia, aliviando não apenas a dor, mas também os aspectos emocionais relacionados.


Mecanismos de Ação da Dor Neuropática


A dor neuropática resulta de lesões nos nervos periféricos que levam à sensibilização das vias de dor no sistema nervoso central e periférico. Isso envolve tanto a sensibilização periférica, que aumenta a atividade dos nociceptores (receptores de dor), quanto a sensibilização central, que altera as sinapses e células gliais, perpetuando a dor. Esses processos complexos podem gerar sintomas como alodinia (dor causada por estímulos leves) e hiperalgesia (resposta exagerada à dor).


Figura 1

Fig. 1: A ilustração mostra as vias ascendentes (vermelha) e descendentes (azul) da resposta à dor. Na dor neuropática (DN), ocorre perda da via analgésica descendente e ativação das vias facilitadoras da dor, além de inflamação periférica causada por células imunológicas ativadas devido à degeneração das células de Schwann, refletindo um desequilíbrio difícil de controlar.


Composição e Ação Química da Ayahuasca


A Ayahuasca é composta de dois ingredientes principais: o DMT (N,N-dimetiltriptamina), presente nas folhas de Psychotria viridis, e as β-carbolinas, encontradas na videira Banisteriopsis caapi. O DMT atua como o principal composto psicoativo, ativando os receptores de serotonina 2A (5HT2A), responsáveis por mudanças na percepção. No entanto, sem a presença das β-carbolinas, que inibem a enzima MAO-A, o DMT seria rapidamente degradado no organismo.


A interação sinérgica entre DMT e β-carbolinas permite que o DMT atue por mais tempo no cérebro, modulando redes neurais envolvidas na percepção da dor e na resposta imunológica, o que é fundamental no contexto da dor neuropática.


Figura 2

Fig. 2: O DMT ativa o receptor 5HT2A, desencadeando uma série de vias de sinalização que modulam a plasticidade sináptica e influenciam o tráfego de receptores AMPA. O fator neuro trófico derivado do cérebro (BDNF) também ativa a via MAPK/ERK, melhorando a plasticidade sináptica e contribuindo para a neuro proteção.


Mecanismo Proposto de Ação da Ayahuasca no Controle da Dor Neuropática


A Ayahuasca pode ser eficaz no controle da dor neuropática, não apenas por sua ação no sistema nervoso central, mas também pela sua capacidade de modular a resposta inflamatória e imunológica. A dor neuropática está frequentemente associada a uma resposta inflamatória exacerbada, e a Ayahuasca tem demonstrado a capacidade de reduzir a liberação de citocinas pró-inflamatórias, ao mesmo tempo em que ativa células imunológicas como macrófagos, ajudando a combater a inflamação nos nervos danificados.

Além disso, a Ayahuasca pode ativar a via analgésica descendente, que normalmente é suprimida em casos de dor neuropática, enquanto melhora os aspectos afetivo motivacionais da dor persistente. Isso pode levar a um aumento do limiar de dor, resultando em um alívio mais eficaz da dor para pacientes que não respondem bem a tratamentos convencionais, como opioides.



Figura 3

A Fig. 3 ilustra de forma detalhada como a Ayahuasca atua tanto no sistema imunológico quanto no sistema nervoso central para proporcionar alívio na dor neuropática. Ela modula a inflamação, ativa células imunológicas regenerativas e melhora a via analgésica descendente, além de atenuar os aspectos emocionais e motivacionais da dor. Esses mecanismos combinados tornam a Ayahuasca uma ferramenta promissora no tratamento da dor neuropática.



 

Conclusão


A Ayahuasca se destaca como uma alternativa promissora para o tratamento da dor neuropática devido à sua capacidade de atuar tanto no sistema nervoso quanto no sistema imunológico. Ao reduzir a inflamação e modular a plasticidade sináptica, a Ayahuasca oferece uma abordagem inovadora para o manejo da dor crônica, especialmente em casos que não respondem bem aos tratamentos convencionais.

Embora os resultados sejam promissores, mais estudos clínicos são necessários para compreender plenamente os mecanismos de ação da Ayahuasca e validar sua eficácia e segurança a longo prazo no tratamento da dor neuropática. Através da combinação de suas propriedades neurológicas e imunomoduladoras, a Ayahuasca pode abrir novas portas para o alívio da dor e a melhoria da qualidade de vida de muitos pacientes.



 

No desenvolvimento deste artigo, reconhecemos e damos crédito ao trabalho intitulado "The unpaved road of ayahuasca, a psychoactive brew, as a treatment for neuropathic pain: A review of mechanistic insights and clinical prospects", publicado na revista Brain, Behavior, and Immunity - Integrative. Este estudo foi conduzido por uma equipe de pesquisadores, incluindo Bianca Castro dos Santos, Ana K'eren Gomes Reis, Ricardo Aparecido Baptista Nucci, Ana Carolina Pinheiro Campos, Daniel de Oliveira Martins, Dimitri Daldegan-Bueno, e Rosana Lima Pagano, em colaboração com o Laboratório de Neurociências do Hospital Sírio-Libanês, a Cooperação Interdisciplinar para Pesquisa e Extensão sobre Ayahuasca (ICARO) da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP, e a School of Pharmacy da University of Auckland, Nova Zelândia.

Essa revisão aprofundada dos mecanismos e perspectivas clínicas do uso da Ayahuasca no tratamento da dor neuropática fornece a base para a compreensão científica dos efeitos neuroimunológicos desta poderosa ferramenta terapêutica, enriquecendo nossa abordagem sobre o potencial da Ayahuasca na saúde integrativa.






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